domingo, 22 de setembro de 2013


            Há pessoas que têm o dom de brincar com as palavras e de fazê-las pousarem onde desejam.... Ritmo, rima, ideia, tudo perfeito. Meu amigo é um desses. Já há alguns anos não o vejo. Mas seu livro de poesias lindamente chamado “Depois que o sol se foi”, escrito em 1998, permanece fiel em minha cabeceira. E sempre que quero me embriagar de ternura vou lá e mato as saudades.

            Um pouquinho de Otávio Venturelli para vocês....
 

SENHOR DOS SONHOS 

Sou morador noturno desta vida,

crio meus sóis na escuridão dos nadas;

sou eu quem faz a lua refletida

no espelho de cristal das madrugadas;

 

Percorro sempre a estrada mais florida,

bebo ilusões nas fontes encantadas,

e,  quando a noite faz a despedida,

sou eu que acendo a luz das alvoradas!

 

Tenho a razão de todas as verdades,

trago comigo a essência das saudades

e o poder de sonhar, que me completa.

 

Faço do amor minha doirada chama!

Eu sou no mundo aquele que mais ama...

Não sabes quem eu sou?- Eu sou o poeta!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013


DIA DE AMAR
 
Hoje, o sol que lá fora se adivinha
      no morno do ar
      nos claros da manhã
há de escrever, em dourado,
     a ladainha
     que eu não soube compor
no altar do nosso amor...
 
Hoje, o azul que no céu se prenuncia
      a anilar o rio, lamacento e frio,
     há de tingir o santo desafio
    que eu não soube fiar
para aquecer nós dois!
 
Hoje, sorrindo calma a lua tímida
     que boia no céu
     num lânguido torpor
     há de desenhar, em prata e luz
     a prece que eu não soube dizer
pra agradecer
por este amor...
 
Hoje, a estrela que presumo no céu,
     joia brilhante, no manto negro e triste
     há de fixar-se no aro de meu dedo
     numa aliança
que eu nunca pude usar....
 
Hoje, enfim, amor, é dia de te amar!....
    Linda Brandão Dias

domingo, 15 de setembro de 2013


Pablo Neruda – Morre Lentamente

Quem morre?

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o preto no branco
e os pingos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

terça-feira, 3 de setembro de 2013


 

                                   Brechas
 

Ideias invadidas de vazios

pontuam pensamentos que se perdem,

e a distração preserva, no cansaço,

a sanidade que se quer manter...

Um coração vazado em desalento

desintegrando focos de emoção

se reequilibra em fio de esperança

-sobrevivente enfraquecido do querer...

Quebra-cabeças de sentires vários

no peito as peças montam seus desenhos

como a compor imagens que destoam

da rispidez que a realidade traz.

Mas a canção interior não cessa,

sobrevivente luz de um bem maior,

e, se infiltrando em brechas da razão,

compõe na alma a música da paz!

 

                                                           LINDA BRANDÃO DIAS